SAÚDE MENTAL: PSICANÁLISE E CRISE
Palavras-chave:
Psicanálise, Saúde Mental, Medicalização, PsicoseResumo
O delírio é visto e interpretado de formas distintas pelas diferentes áreas da saúde. Desse modo, tem-se difundido diversas maneiras de tratar da crise como algo que pede a medicalização ou farmacologização do sofrimento. Com isto, um importante movimento tem produzido a docilização dos corpos com vistas ao seu ajustamento à norma vigente, naquilo que se entende como normalidade (FOUCAULT, 2010). Entendendo que a Psicanálise e a Política de Saúde Mental operam de modo a criar estratégias e recursos que viabilizem a assunção de um outro modo de tratar do sofrimento humano, faz-se necessário retomar este debate que, mesmo havendo produções existentes que abordam a problemática, ainda merece discussão e aprofundamento. Aprofundar o embasamento teórico sobre o delírio na saúde mental com enfoque em abordagem psicanalítica. Articulando saúde mental, sendo esta uma prática fundamentalmente comunitária, baseada em políticas públicas e nas premissas da reforma psiquiátrica (Abreu, 2008); e psicanálise, uma abordagem de atendimento com foco no sujeito e sua fala, este artigo visa expor as dificuldades de um acolhimento apropriado do delírio e da crise psicótica por profissionais da saúde mental e demonstrar como esse processo deve ser feito em análise. Ensaio teórico, tendo como principais características a exposição da relação entre subjetividade e objetividade, sem lógica formal, e trazendo, principalmente, questionamentos e reflexões (Meneghetti, 2011). Percebeu-se que a clínica da crise é uma clínica do mal estar, onde ao mesmo tempo em que se encontra um local estranho, este também pode parecer muito familiar (Knobloch, 1998 apud Ferigato, 2008). Isso pode gerar receio de profissionais da saúde mental, mas, tendo a psicanálise como base, é exposta essa questão e é proposta uma forma de intervenção baseada no secretariado do alienado (Mendonça, 2012; Meyer, 2008 apud Dos Santos; Bernardes). É, sim, possível realizar um atendimento de crise em saúde mental com abordagem psicanalítica, tendo esta como principal função tratar o sintoma analisável. Possibilitando, também, outro modo de tratamento para além dos efeitos normativos que a perspectiva biomédica produz na vida das pessoas submetidas aos tratamentos psiquiátricos.