PSICOPATOLOGIZAÇÃO EM ADULTOS E QUAIS OS EFEITOS DISSO NA SOCIEDADE

Autores

  • Vaneide Ribeiro M. Martins
  • Gabriely Silva Faria
  • Luiz Guilherme Augusto Gomes

Palavras-chave:

Psicopatologia, Psicanálise, Saúde Mental

Resumo

A evolução da psicopatologia ao longo do tempo ilustra uma trajetória complexa de entendimento do sofrimento humano. Duque e Vianna (2014) remetem ao século XVIII, quando médicos alienistas baseavam seus estudos majoritariamente em aspectos físico-morais, muitas vezes negligenciando a rica subjetividade dos pacientes. Contudo, nosso objetivo foi evidenciar o cenário onde o paciente era muitas vezes despersonalizado, confinado a rótulos e diagnósticos reducionistas, e com o avanço da compreensão sobre a mente humana, podemos observar o fenômeno da psicopatologização. Isso se refere à tendência da sociedade em categorizar e rotular comportamentos e experiências como patológicos ou anormais, mesmo quando são manifestações normais da variação humana. Costa-Rosa (2000) e Amarante (1996) ressaltam as consequências perniciosas desse fenômeno, que incluem estereótipos negativos e uma crescente dependência da medicalização como resposta a questões socioculturais. Os diagnósticos, sem dúvida, têm seu valor, podendo facilitar o acesso a tratamentos e serviços necessários. No entanto, Duque e Vianna (2014) alertam sobre a psicopatologização excessiva e suas ramificações, como estigmatização e medicalização indevida. A grande problemática está no não equilíbrio da utilidade dos diagnósticos com a necessidade de reconhecer e valorizar a individualidade do paciente. Bocchi (2018) vai além destacando a padronização na abordagem do sofrimento psíquico. Amarante (2007) reitera essa ideia ao indicar que a doença tornou-se o foco, relegando o indivíduo a um papel secundário. Observamos uma crescente necessidade de categorizar transtornos mentais, o que, ironicamente, pode diluir a compreensão genuína do sofrimento humano. Um olhar retrospectivo à teoria freudiana oferece uma perspectiva intrigante. Freud (1930) vinculou desordens psíquicas em adultos ao conflito entre o indivíduo e sua cultura. Em um ambiente onde a cultura frequentemente reprime os desejos e impulsos naturais do indivíduo, surgem sintomas psicopatológicos. Estes sintomas não são meros desvios, mas reflexos de um funcionamento mental em choque com as demandas culturais. Jacques Lacan, ampliando a teoria psicanalítica, postulou que o sintoma não é apenas uma mensagem codificada, mas uma expressão do "gozo" ou prazer do indivíduo. Portanto, o sintoma pode ser um mecanismo para o indivíduo organizar e entender seu mundo interno em relação ao externo. Contudo, a sociedade contemporânea, ansiosa por rótulos, muitas vezes esquece a profundidade e a complexidade do ser humano. Há uma ênfase excessiva em diagnósticos e uma rápida inclinação a patologizar experiências humanas normais. Este é um fenômeno preocupante que merece uma reavaliação crítica. Em síntese, a psicopatologização e a medicalização excessiva podem comprometer nossa capacidade de ver o indivíduo além de seus sintomas. É imperativo que os profissionais da saúde mental e a sociedade como um todo abordem o sofrimento humano com empatia, profundidade e um desejo genuíno de compreensão. A psicanálise, com suas raízes profundas e abordagens introspectivas, oferece uma ferramenta valiosa nessa jornada.

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Publicado

08-07-2024